8 de outubro de 2025

Vivendo

 
A vida adulta é complicada porque nunca nada é fácil. É essa a mais pura verdade. Sempre é necessário dar um jeito, contornar algo, pensar e repensar uma situação. Isso é o que esgota, desanima, dilacera. O adulto é cansado porque a vida é dura, sem folga e muitas vezes sem sentido. Todos os prazeres acabam sendo difíceis de atingir. Ou quem sabe são os próprios adultos que dificultam. Às vezes acho que eu dificulto mesmo as coisas. O pior é que são os pequenos problemas que me desabam. Tento tanto ser forte para lidar com o que me atinge, que as circunstâncias inimagináveis, que me fogem do ilusório controle - elas me quebram, desmontam, me tiram do sério. Fico inconformada, irritada, desgostosa. Esse é um dos motivos de não conseguir achar a existência leve, fluida. Toda hora é um peso, uma marcha ré, uma desilusão. Creio que seria mais fácil se as consequências não importassem tanto. Se vivêssemos apenas no presente, se todo fim fosse um ponto final.Claro que são as consequências que moldam o mundo, que preparam e colocam em prática os ensinamentos. São pensamentos conflitantes. Creio que paz no mundo é inatingível. E não digo a paz entre as nações, entre os povos e mercados, ou seja, uma paz externa. Falo da paz individual, pessoal e egoísta. Não sei, mas temo que viver seja isso: resolver problemas, perder as forças e depois de tudo e tanto, se levantar e continuar a luta, o caminho, a andança. Até o imprescindível fim.

22 de junho de 2025

Domingo em Junho


 
 Uma nova frente fria chegou. Me sinto em desespero, fraca, cansada. Queria desaparecer. São muitas emoções de uma só vez; é uma avalanche que me consome. O problema é que já não tenho muito mais do que ser consumido. Não sei como lidar com a vida; com os problemas, com as aflições. Minha válvula de escape é bloquear tudo com que não sei lidar; não sinto, não transmito, não compactuo. Mas então, quando já não caibo mais em mim, transbordo em milhares de pedaços; estilhaço-me em fragmentos descontínuos. Descontrolo-me e o mundo não faz sentido; e a vida não faz sentido; e eu não faço sentido. Queria esquecer-me de tudo, me livrar de todos esses sentimentos amargurados, desconexos. Queria chorar por horas, com soluços e torrentes d’água. Não consigo, as lágrimas não descem, o grito não sai. Não sei onde pertenço, tudo é estranho, supérfluo, insensato. Não me compreendo, não me reconheço, não me gosto. Não consigo ver o porquê do caminho, das ações. Acredito que o objetivo não compensa. O tempo nublado não ajuda: me entristece, me guarda em mim. Me sinto presa por minhas próprias amarras e pensamentos. Confusão é o que me adjetiva. Queria colo, reconhecimento, compreensão, porém corro e me escondo quando há possibilidade. Creio que não mereço. Por que me sinto assim? Onde foi que me transformei nesse aglomerado de insensibilidades? – Eu realmente estou extremamente cansada. Sinto minhas forças se esvaindo gota a gota. A vida hoje me parece desnecessária e cansativa. Me encontro desconectada da existência de uma maneira geral. O mundo não me agrada, não me comove, não me motiva. E eu mesma não me ajudo. Vivo no automático, sempre em frente sem observar os detalhes. É tudo não mal vivido que não me recordo de muita coisa; o viver passar batido; o existir é silencioso e opaco. Remoo as minhas incertezas até que elas se aumentam em tamanho e importância. Que jeito triste de existir. Já não sei o que escrevo, os pensamentos estão se entrelaçando e perdendo o fluxo de sentido. Ainda confusa, entretanto mais calma. Pelo menos na superfície a água agora é lenta. Sei que nas profundezas há um turbilhão de emoções não compreendidas, que há uma correnteza forte e assustadora me que leva cada vez mais fundo, mas por agora flutuo, pairo, vago em ilusória calmaria.