Uma nova frente fria chegou. Me sinto em desespero, fraca,
cansada. Queria desaparecer. São muitas emoções de uma só vez; é uma avalanche
que me consome. O problema é que já não tenho muito mais do que ser
consumido. Não sei como lidar com a vida; com os problemas, com as aflições.
Minha válvula de escape é bloquear tudo com que não sei lidar; não
sinto, não transmito, não compactuo. Mas então, quando já não caibo mais em
mim, transbordo em milhares de pedaços; estilhaço-me em fragmentos
descontínuos. Descontrolo-me e o mundo não faz sentido; e a vida não faz
sentido; e eu não faço sentido. Queria esquecer-me de tudo, me livrar de todos
esses sentimentos amargurados, desconexos. Queria chorar por horas, com soluços
e torrentes d’água. Não consigo, as lágrimas não descem, o grito
não sai. Não sei onde pertenço, tudo é estranho, supérfluo, insensato. Não me
compreendo, não me reconheço, não me gosto. Não consigo ver o porquê do
caminho, das ações. Acredito que o objetivo não compensa. O tempo nublado não
ajuda: me entristece, me guarda em mim. Me sinto presa por minhas próprias
amarras e pensamentos. Confusão é o que me adjetiva. Queria colo,
reconhecimento, compreensão, porém corro e me escondo quando há
possibilidade. Creio que não mereço. Por que me sinto assim? Onde foi que me
transformei nesse aglomerado de insensibilidades? – Eu realmente estou
extremamente cansada. Sinto minhas forças se esvaindo gota a gota. A vida hoje
me parece desnecessária e cansativa. Me encontro desconectada da existência de
uma maneira geral. O mundo não me agrada, não me comove, não me motiva. E eu
mesma não me ajudo. Vivo no automático, sempre em frente sem observar os
detalhes. É tudo não mal vivido que não me recordo de muita coisa; o viver
passar batido; o existir é silencioso e opaco. Remoo as minhas incertezas até
que elas se aumentam em tamanho e importância. Que jeito triste de existir. Já
não sei o que escrevo, os pensamentos estão se entrelaçando e perdendo o fluxo
de sentido. Ainda confusa, entretanto mais calma. Pelo menos na superfície a
água agora é lenta. Sei que nas profundezas há um turbilhão de emoções não
compreendidas, que há uma correnteza forte e assustadora me que leva cada vez
mais fundo, mas por agora flutuo, pairo, vago em ilusória calmaria.
Hollywood (1932) / What Price Hollywood? (1932)
Há 2 semanas