7 de outubro de 2020

 O passarinho procura em vão água no bebedouro preso ao coqueiro. Está quebrado a meses. Esqueço sempre de comprar outro. A vida passa; a minha e a do pássaro. Entretanto, a dele é mais plena; talvez porque é mais curta. Será que é a duração que torna a vida difícil? Ou será que é nossa percepção da vida que a torna torturante? Questionamentos passam como os vagões de trem. Rápido, incontáveis, vertiginosos. A vida nada mais é que seguir na avenida. É o caminhar pensando num destino e chegando a outro. É descansar embaixo de uma sombra de árvore e esperar que não sejamos capturados pela rede da morte, que sobe e desce a todo momento. Falando assim faz parecer que a vida é triste. Não é; só não é fácil. É prazerosa em alguns momentos, alegres em outros. O que dificulta é o desejo de transgredir; é a vontade de ser o que não é. Eu, os outros, o mundo. Se nos contentássemos com as coisas do jeito que são esse sentimento de inquietude não seria tão forte, tão denso e violento. O vento sopra no quintal, porém queria estar na beira do mar. Esse é o problema da existência: querer sempre o que não se tem na mão. Se estivesse olhando o mar, provavelmente desejaria a calma do quintal. O sol se move sobre mim, o dia fica mais quente a cada minuto. Daqui a pouco começo a reclamar da temperatura. Às vezes suponho que faço isso por hábito e falta de assunto. É o que todo mundo faz. Fecho os olhos, divago sobre o os afazeres do dia, medito. Daqui a pouco é hora de levantar da cadeira e começar o dia. Conto os minutos e escolho uma música para alegrar o espírito. A alma deleita-se e dança.

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