O sol esquentava a pele; a alma continuava gelada como nunca. Nada parecia agradar, até as músicas que gostava acabava lhe incomodando. Margot queria sumir. Porém, nenhum lugar parecia distante o suficiente. Porque o problema não era o lugar, a música, as pessoas. Era a existência, o peso crescente sobre os ombros, o desapego com o natural, o ódio da vida ser o que é. Não havia escapatória. A juventude passava e o desespero crescia. O fim é iminente. Como sobreviver com esses pensamentos, com essas opiniões, como esse medo? Margot não compreendia como algumas pessoas conseguiam viver sem esses questionamentos, sem essa visão pessimista perante as coisas externas e, porque não as internas. A situação estava tão fora do controle que não conseguia imaginar um lugar em que seria feliz, contente ou mesmo em paz. Nada lhe agradava. A vida era uma avalanche de ansiedade. A cada passo uma nova reflexão. Nada era simples. E, Margot, desejava loucamente a simplicidade. Queria regredir para o que já tinha sido; não queria ser o que era, tinha receio do que se tornaria no futuro,visto parecer piorar com cada atualização. Queria tempo para ser o que quisesse. A eternidade sempre lhe pareceu o melhor superpoder que alguém poderia ter. Dessa forma, os erros não seriam tão pesados, cansativos, e sugadores de energia. Os erros na finitude são dilacerantes; o tempo não volta mais. Quando percebemos que a gota caiu já não há o que fazer, para onde correr, onde se esconder. Se sentia frustrada com tudo, mas principalmente com ela mesma. Como que se deixou chegar nesse ponto? Em que dia se tornou esse aglomerado de desilusões? Tentava recordar dos tempos da infância, mas até eles lhe deixavam abatida, desconcertada. O sol continuava firme e quente demais. Se sentia liquefeita como os relógios de Dalí.O vento do oeste era o alento. Cada rajada era um fôlego. Respirou mais fundo e devagar. Era hora de seguir, os cinco minutos de descontentamento haviam terminado.