Vou colocar o trecho aqui:
Sentou-se. "Vamos ver o grande cabeleireiro", disse-me rindo.  Continuei a alisar os cabelos, com muito cuidado, e dividi-os em duas  porções iguais, para compor as duas tranças. Não as fiz logo, nem assim  depressa, como podem supor os cabeleireiros de ofício, mas devagar,  devagarinho, saboreando pelo tato aqueles fios grossos, que eram parte  dela. O trabalho era atrapalhado, às vezes por desazo, outras de  propósito para desfazer o feito e refazê-lo. Os dedos roçavam na nuca da  pequena ou nas espáduas vestidas de chita, e a sensação era um deleite.  Mas, enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse  intermináveis. Não pedi ao Céu que eles fossem tão longos como os da  Aurora, porque não conhecia ainda esta divindade que os velhos poetas me  apresentaram depois; mas, desejei penteá-los por todos os séculos dos  séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um  número inominável de vezes. Se isto vos parecer enfático, desgraçado  leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca pusestes as mãos  adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa... Uma ninfa! Todo eu estou  mitológico. Ainda há pouco, falando dos seus olhos de ressaca, cheguei a  escrever Tétis; risquei Tétis, risquemos ninfa; digamos somente uma  criatura amada, palavra que envolve todas as potências cristãs e pagãs.  Enfim, acabei as duas tranças. Onde estava a fita para atar-lhes as  pontas? Em cima da mesa, um triste pedaço de fita enxovalhada. Juntei as  pontas das tranças, uni-as por um laço, retoquei a obra alargando aqui,  achatando ali, até que exclamei:
 fiz logo, nem assim  depressa, como podem supor os cabeleireiros de ofício, mas devagar,  devagarinho, saboreando pelo tato aqueles fios grossos, que eram parte  dela. O trabalho era atrapalhado, às vezes por desazo, outras de  propósito para desfazer o feito e refazê-lo. Os dedos roçavam na nuca da  pequena ou nas espáduas vestidas de chita, e a sensação era um deleite.  Mas, enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse  intermináveis. Não pedi ao Céu que eles fossem tão longos como os da  Aurora, porque não conhecia ainda esta divindade que os velhos poetas me  apresentaram depois; mas, desejei penteá-los por todos os séculos dos  séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um  número inominável de vezes. Se isto vos parecer enfático, desgraçado  leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca pusestes as mãos  adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa... Uma ninfa! Todo eu estou  mitológico. Ainda há pouco, falando dos seus olhos de ressaca, cheguei a  escrever Tétis; risquei Tétis, risquemos ninfa; digamos somente uma  criatura amada, palavra que envolve todas as potências cristãs e pagãs.  Enfim, acabei as duas tranças. Onde estava a fita para atar-lhes as  pontas? Em cima da mesa, um triste pedaço de fita enxovalhada. Juntei as  pontas das tranças, uni-as por um laço, retoquei a obra alargando aqui,  achatando ali, até que exclamei:
— Pronto!
— Estará bom?
— Veja no espelho.
Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu? Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim. Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo. Inclinei-me depois sobre ela, rosto a rosto, mas trocados, os olhos de uma na linha da boca do outro. Pedi-lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço. Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu.
— Levanta, Capitu!
Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a olhar um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus, e...
Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se, rápida, eu recuei até à parede com uma espécie de vertigem, sem fala, os olhos escuros. Quando eles me clarearam, vi que Capitu tinha os seus no chão. Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse, faltava-me língua. Preso, atordoado, não achava gesto nem ímpeto que me descolasse da parede e me atirasse a ela com mil palavras cálidas e mimosas... Não mofes dos meus quinze anos, leitor precoce. Com dezessete, Des Grieux (e mais era Des Grieux) não pensava ainda na diferença dos sexos.Esse é o capítulo que mais gosto do livro,acho super lindo,mas continuo odiando MACHADO DE ASSIS.
O livro é bom sim,só não gostei do final,é realista demais pro meu gosto! KKKKK


 



0 comentários:
Postar um comentário